Em tão contínua dor, que nunca aliva,
Chamar a morte sempre, e que ela, altiva,
Se ria dos meus rogos, no tormento;
E ver no mal que todo entendimento
Naturalmente foge, e quanto aviva
A dor mais o vagar da alma cativa,
A quem não fará crer que é tudo um vento?
Bem sei uns olhos que tem toda a culpa,
e são os meus, que a toda a parte vem
Após o que vem sempre e os desculpa.
Ó minhas visões altas, meu só bem,
Quem vos a vós não vê, esse me culpa,
E eu sou o só que as vejo, outrem ninguém.
Francisco de Sá de Miranda
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