Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Anche in una società più decente di questa, mi sa che mi troverò a mio agio e d'accordo sempre con una minoranza. (Nanni Moreti)
Acerca de mim
sábado, 31 de março de 2012
Querer
«Todo o querer procede duma necessidade, isto é, duma privação, isto é, dum sofrimento. A satisfação põe-lhe um fim; mas, para um desejo que é satisfeito, dez, pelo menos, são contrariados; além disso, o desejo é demorado, e as suas exigências tendem para o infinito; a satisfação é curta, e é parcimoniosamente medida. Mas este contentamento supremo é apenas aparente: o desejo satisfeito dá lugar em breve a um novo desejo; o primeiro é uma decepção reconhecida, o segundo é uma decepção ainda não reconhecida. A satisfação de nenhum desejo pode conseguir contentamento durável e inalterável. É como a esmola que se lança a um mendigo: ela salva-lhe hoje a vida para prolongar a sua miséria até amanhã. - Enquanto a nossa consciência está preenchida pela nossa vontade, enquanto estamos subjugados pelo impulso do desejo, pelas esperanças e pelos temores contínuos que ele faz nascer, enquanto somos súbditos do querer, não existe para nós nem felicidade duradoura, nem repouso. Continuar ou fugir, temer a infelicidade ou procurar o gozo, é na realidade tudo o mesmo: a inquietude duma vontade sempre exigente, sob qualquer forma que se manifeste, enche e perturba sem cessar a consciência; ora, sem repouso a verdadeira felicidade é impossível. Assim o súbdito do querer assemelha-se a I xião amarrado a uma roda que não deixa de rodar, às Danaides que tiram sempre água do poço para encherem o seu tonel, a Tântalo eternamente sequioso.»
Arthur Schopenhauer, O Mundo como vontade e representação
Saudade
«Ma ci sono delle ragioni che sfuggono anche alle guide migliori. In questo caso la saudade, cui peraltro è dedicata questa piccola strada. La saudade è parola portoghese di impervia traduzione, perché è una parola-concetto, perciò viene restituita in altre lingue in maniera approssimativa. Su un comune dizionario portoghese-italiano la troverete tradotta con "nostalgia", parola troppo giovane (fu coniata ne Settecento dal medico svizzero Johannes Hofer) per una faccenda così antica come la saudade. Se consultate un autorevole dizionario portoghese, come il Morais, dopo l'indicazione dell'etimo soidade o solitate, cioè "solitudine", vi darà una definizione molto complessa: «Malinconia causata dal ricordo di un bene perduto; dolore provocato dall'assenza di un oggetto amato; ricordo dolce e insieme triste di una persona cara». È dunque qualcosa di straziante, ma può anche intenerire, e non si rivolge esclusivamente al passato, ma anche al futuro, perché esprime un desiderio che vorreste si realizzasse. E qui le cose si complicano perché la nostalgia del futuro è un paradosso. Forse un corrispettivo più adeguato potrebbe essere il disìo dantesco che reca con sé una certa dolcezza, visto che «intenerisce il core». Insomma, come spiegare questa parola?
È proprio per questo che allontanandovi di pochi metri siete venuti qui. Perché dall'alto, di questa piccola strada lo sguardo abbraccia tutta la città e l'enorme foce del Tago. E poco più avanti l'Oceano, e l'infinito orizzonte. L'ignoto portoghese che dette il nome a questa strada certamente aveva guardato bene il panorama. Un grande linguista ha detto che è impossibile spiegare il senso della parola formaggio a una persona che non ha mai assaggiato un formaggio. Per capire cos'è la saudade, dunque, niente di meglio che provarla direttamente. Il momento migliore è ovviamente il tramonto, che è l'ora canonica della saudade, ma si prestano bene anche certe sere di nebbia atlantica, quando sulla città scende un velo e si accendono i lampioni. Lì, da soli, guardando questo panorama davanti a voi, forse vi prenderà una sorta di struggimento. La vostra immaginazione, facendo uno sgambetto al tempo, vi farà pensare che una volta tornati a casa e alle vostre abitudini vi prenderà la nostalgia di un momento privilegiato della vostra vita in cui eravate in una bellissima e solitaria viuzza di Lisbona a guardare un panorama struggente. Ecco, il gioco è fatto: state avendo nostalgia del momento che state vivendo in questo momento. È una nostalgia al futuro. Avete sperimentato di persona la saudade.
È proprio per questo che allontanandovi di pochi metri siete venuti qui. Perché dall'alto, di questa piccola strada lo sguardo abbraccia tutta la città e l'enorme foce del Tago. E poco più avanti l'Oceano, e l'infinito orizzonte. L'ignoto portoghese che dette il nome a questa strada certamente aveva guardato bene il panorama. Un grande linguista ha detto che è impossibile spiegare il senso della parola formaggio a una persona che non ha mai assaggiato un formaggio. Per capire cos'è la saudade, dunque, niente di meglio che provarla direttamente. Il momento migliore è ovviamente il tramonto, che è l'ora canonica della saudade, ma si prestano bene anche certe sere di nebbia atlantica, quando sulla città scende un velo e si accendono i lampioni. Lì, da soli, guardando questo panorama davanti a voi, forse vi prenderà una sorta di struggimento. La vostra immaginazione, facendo uno sgambetto al tempo, vi farà pensare che una volta tornati a casa e alle vostre abitudini vi prenderà la nostalgia di un momento privilegiato della vostra vita in cui eravate in una bellissima e solitaria viuzza di Lisbona a guardare un panorama struggente. Ecco, il gioco è fatto: state avendo nostalgia del momento che state vivendo in questo momento. È una nostalgia al futuro. Avete sperimentato di persona la saudade.
Antonio Tabucchi, Viaggi e altri viaggi
domingo, 25 de março de 2012
Categoria de espírito
«Nuno Meneses de Sequeira recebeu-me num salão barroco com muitos estuques no tecto e duas grandes tapeçarias poídas nas paredes. Estava vestido de preto, tinha a cara a luzir, o crânio calvo cintilava, estava sentado numa poltrona de veludo beige, quando entrei levantou-se, fez uma imperceptível vénia com a cabeça e convidou-me a sentar num pequeno sofá sob a janela. As portadas estavam fechadas e na sala pairava um cheiro pesado de tapeçaria velha. Como morreu?, perguntei, tinha uma doença grave, disse, não sabia? Abanei a cabeça. Que género de doença? Nuno Meneses de Sequeira cruzou as mãos. Uma doença grave, disse. Telefonou-me para Madrid há quinze dias, não me disse nada, nem mesmo uma alusão, ainda não sabia? Estava já muito mal e a par de tudo. Porque é que não me terá dito? Talvez não achasse oportuno, disse Nuno Meneses de Sequeira, agradecia se não viesse ao funeral, será estritamente privado. Não tinha essa intenção, tranquilizei-o. Fico-lhe muito grato, murmurou em voz baixa.
O silêncio na sala tornou-se palpável, incómodo. Posso vê-la?, perguntei, Nuno Meneses de Sequeira olhou-me longamente, com ar irónico, pareceu-me. Não é possível, disse, está na clínica da CUF, morreu lá, e o médico deu ordem para fechá-la, não era possível deixá-la aberta, dadas as condições.
Pensei despedir-me, pensei por que motivo me teria telefonado, mesmo que fosse uma vontade de Maria do Carmo, para quê fazer-me vir a Lisboa, qualquer coisa me escapava, ou talvez não houvesse nada de estranho, aquela situação era simplesmente penosa, era inútil prolongá-la. Mas Nuno Meneses de Sequeira não acabara de falar, apoiava as mãos nos braços da poltrona como quem está para levantar-se de um momento para o outro, tinha os olhos aquosos e uma expressão dura, má, ou talvez fosse a tensão nervosa que devia sentir. O senhor nunca a entendeu, disse, é demasiado jovem, era jovem demais para Maria do Carmo. E o senhor velho demais, tive vontade de dizer, mas calei-me. Ocupa-se de filologia, ah ah, deu uma risadinha, a sua vida são as bibliotecas, não podia entender uma mulher assim. O que quer dizer com isso?, disse eu, Nuno Meneses de Sequeira levantou-se, foi à janela, abriu ligeiramente as portadas. Quero tirar-lhe uma ilusão, disse, a de ter conhecido Maria do Carmo, o senhor só conheceu uma ficção de Maria do Carmo. O que quer dizer com isso?, repeti. Bem, sorriu Nuno Meneses de Sequeira, imagino o que lhe terá contado Maria do Carmo, uma história de folhetim com uma infância infeliz em Nova Iorque, um pai republicano morto heroicamente na guerra civil de Espanha, oiça meu caro senhor, nunca na vida estive em Nova Iorque, Maria do Carmo é filha de grandes proprietários, teve uma infância dourada, há quinze anos, quando a conheci, tinha vinte e sete anos e era a mulher mais cortejada de Lisboa, eu voltava de uma missão diplomática em Espanha e ambos tínhamos em comum o amor pelo nosso país. Fez uma pausa como para dar maior peso às suas palavras. O amor pelo nosso país, repetiu, não sei se me faço entender. Depende em que sentido usa a palavra, disse eu. Nuno Meneses de Sequeira ajustou o nó da gravata, tirou da algibeira um lenço, assumiu um ar enfadado e ao mesmo tempo paciente. Oiça, Maria do Carmo gostava muito de um jogo. Jogou-o toda a vida, sempre o jogámos de comum acordo. Fiz um gesto com a mão, como para impedi-lo de continuar, mas ele prosseguiu: o senhor deve ter caído no tal jogo do reverso. Um relógio de pêndulo, numa sala distante, tocou. A menos que não tenha sido o senhor a cair num reverso do mesmo jogo, disse eu. Nuno Meneses de Sequeira sorriu mais uma vez, bonito sim senhor, disse, podia ser uma frase de Maria do Carmo, é legítimo que o senhor pense nessa hipótese, mesmo que seja uma presunção, acredite. Havia uma nota de desprezo na sua voz. Fiquei em silêncio, olhando para o chão, havia um tapete de Arraiolos de um azul profundo com pavões cinzentos. Lamento que o senhor me obrigue a ser mais explícito, recomeçou Nuno Meneses de Sequeira, suponho que gosta de Pessoa. Gosto muito, admiti. Talvez até esteja ao corrente das traduções que saem no estrangeiro. O que é que quer dizer?, perguntei. Nada de especial, disse ele, só isto, que Maria do Carmo recebia muitas traduções do estrangeiro, entende-me, não é verdade? Não o entendo, disse eu. Digamos que não quer entender-me, corrigiu-me Nuno Meneses de Sequeira, que prefere não me entender, a realidade é desagradável, e o senhor prefere os sonhos, peço que não me obrigue a descer aos detalhes, os detalhes são sempre tão ordinários, limitemo-nos ao conceito.
Da janela chegou o som de uma sirene, talvez um navio que entrava no porto, e imediatamente senti um imenso desejo de ser um dos passageiros daquele navio, de entrar no porto de uma cidade desconhecida que se chamava Lisboa e de ter que telefonar a uma mulher desconhecida para lhe dizer que saíra uma nova tradução de Fernando Pessoa, e essa mulher chamar-se-ia Maria do Carmo, viria à livraria Bertrand com um vestido amarelo, gostaria do fado e dos pratos safarditas, e eu já sabia tudo isto, mas aquele passageiro que era eu e que olhava Lisboa do parapeito do navio não o sabia ainda e tudo seria para ele novo e idêntico. E isso era saudade, Maria do Carmo tinha razão, não era uma palavra, era uma categoria de espírito. A seu modo, também ele era um reverso.»
O silêncio na sala tornou-se palpável, incómodo. Posso vê-la?, perguntei, Nuno Meneses de Sequeira olhou-me longamente, com ar irónico, pareceu-me. Não é possível, disse, está na clínica da CUF, morreu lá, e o médico deu ordem para fechá-la, não era possível deixá-la aberta, dadas as condições.
Pensei despedir-me, pensei por que motivo me teria telefonado, mesmo que fosse uma vontade de Maria do Carmo, para quê fazer-me vir a Lisboa, qualquer coisa me escapava, ou talvez não houvesse nada de estranho, aquela situação era simplesmente penosa, era inútil prolongá-la. Mas Nuno Meneses de Sequeira não acabara de falar, apoiava as mãos nos braços da poltrona como quem está para levantar-se de um momento para o outro, tinha os olhos aquosos e uma expressão dura, má, ou talvez fosse a tensão nervosa que devia sentir. O senhor nunca a entendeu, disse, é demasiado jovem, era jovem demais para Maria do Carmo. E o senhor velho demais, tive vontade de dizer, mas calei-me. Ocupa-se de filologia, ah ah, deu uma risadinha, a sua vida são as bibliotecas, não podia entender uma mulher assim. O que quer dizer com isso?, disse eu, Nuno Meneses de Sequeira levantou-se, foi à janela, abriu ligeiramente as portadas. Quero tirar-lhe uma ilusão, disse, a de ter conhecido Maria do Carmo, o senhor só conheceu uma ficção de Maria do Carmo. O que quer dizer com isso?, repeti. Bem, sorriu Nuno Meneses de Sequeira, imagino o que lhe terá contado Maria do Carmo, uma história de folhetim com uma infância infeliz em Nova Iorque, um pai republicano morto heroicamente na guerra civil de Espanha, oiça meu caro senhor, nunca na vida estive em Nova Iorque, Maria do Carmo é filha de grandes proprietários, teve uma infância dourada, há quinze anos, quando a conheci, tinha vinte e sete anos e era a mulher mais cortejada de Lisboa, eu voltava de uma missão diplomática em Espanha e ambos tínhamos em comum o amor pelo nosso país. Fez uma pausa como para dar maior peso às suas palavras. O amor pelo nosso país, repetiu, não sei se me faço entender. Depende em que sentido usa a palavra, disse eu. Nuno Meneses de Sequeira ajustou o nó da gravata, tirou da algibeira um lenço, assumiu um ar enfadado e ao mesmo tempo paciente. Oiça, Maria do Carmo gostava muito de um jogo. Jogou-o toda a vida, sempre o jogámos de comum acordo. Fiz um gesto com a mão, como para impedi-lo de continuar, mas ele prosseguiu: o senhor deve ter caído no tal jogo do reverso. Um relógio de pêndulo, numa sala distante, tocou. A menos que não tenha sido o senhor a cair num reverso do mesmo jogo, disse eu. Nuno Meneses de Sequeira sorriu mais uma vez, bonito sim senhor, disse, podia ser uma frase de Maria do Carmo, é legítimo que o senhor pense nessa hipótese, mesmo que seja uma presunção, acredite. Havia uma nota de desprezo na sua voz. Fiquei em silêncio, olhando para o chão, havia um tapete de Arraiolos de um azul profundo com pavões cinzentos. Lamento que o senhor me obrigue a ser mais explícito, recomeçou Nuno Meneses de Sequeira, suponho que gosta de Pessoa. Gosto muito, admiti. Talvez até esteja ao corrente das traduções que saem no estrangeiro. O que é que quer dizer?, perguntei. Nada de especial, disse ele, só isto, que Maria do Carmo recebia muitas traduções do estrangeiro, entende-me, não é verdade? Não o entendo, disse eu. Digamos que não quer entender-me, corrigiu-me Nuno Meneses de Sequeira, que prefere não me entender, a realidade é desagradável, e o senhor prefere os sonhos, peço que não me obrigue a descer aos detalhes, os detalhes são sempre tão ordinários, limitemo-nos ao conceito.
Da janela chegou o som de uma sirene, talvez um navio que entrava no porto, e imediatamente senti um imenso desejo de ser um dos passageiros daquele navio, de entrar no porto de uma cidade desconhecida que se chamava Lisboa e de ter que telefonar a uma mulher desconhecida para lhe dizer que saíra uma nova tradução de Fernando Pessoa, e essa mulher chamar-se-ia Maria do Carmo, viria à livraria Bertrand com um vestido amarelo, gostaria do fado e dos pratos safarditas, e eu já sabia tudo isto, mas aquele passageiro que era eu e que olhava Lisboa do parapeito do navio não o sabia ainda e tudo seria para ele novo e idêntico. E isso era saudade, Maria do Carmo tinha razão, não era uma palavra, era uma categoria de espírito. A seu modo, também ele era um reverso.»
Antonio Tabucchi, O Jogo do reverso
sexta-feira, 9 de março de 2012
Vagas
Imagens que passais pela retina
dos meus olhos por que vos fixais?
Acumuladas como sucessivas
vagas cativas sob o céu das praias
vós encheis ao morrer a minha vida
presente onde já nada vos chamava
porque a vida suprime-vos e cria
sucessivas imagens das imagens
Este céu que revela as ondas frias
sob a sua cratera separando-se
exaustas
como as folhas do livro da linguagem
no passado presente cresce oscila
e reconduz aos olhos as imagens
dos meus olhos por que vos fixais?
Acumuladas como sucessivas
vagas cativas sob o céu das praias
vós encheis ao morrer a minha vida
presente onde já nada vos chamava
porque a vida suprime-vos e cria
sucessivas imagens das imagens
Este céu que revela as ondas frias
sob a sua cratera separando-se
exaustas
como as folhas do livro da linguagem
no passado presente cresce oscila
e reconduz aos olhos as imagens
Gastão Cruz, Poemas Reunidos
sábado, 3 de março de 2012
2
«Pessoa si svegliò, accese la luce del piccolo abatjour e cercò il suo orologio sul tavolino da notte. L'orologio segnava le tre, ma era fermo. Pessoa si rese conto che aveva perso la nozione del tempo. Pensò di suonare il campanello ma ci rinunciò perché proprio in quel momento sentì bussare alla porta.
Posso entrare, signor Pessoa?, chiese una voce.
Pessoa disse avanti e entrò un uomo. Reggeva un vassoio fra le mani, si soffermò sulla porta, ma Pessoa, senza gli occhiali e nella penombra della camera, non lo riconobbe.
Lei chi è?, domandò Pessoa.
Sono il suo amico Bernardo Soares, rispose l'uomo, ho saputo che era in ospedale e mi sono permesso di venirle a fare una visita.
Bernardo Soares si avvicinò al letto e posò il vassoio sul comodino. Le ho portato la cena, disse, l'ho presa nella trattoria dove ci incontravamo sempre, ho pensato che forse aveva voglia di fare una cena come ai bei tempi, mi sono permesso di scegliere io il menù.
In realtà non ho molta fame, rispose Pessoa, ma per farle piacere mangerò qualcosa, che cosa mi ha portato?
Si tiri su e le metterò il vassoio davanti, rispose Bernardo Soares, sono cibi tradizionali della nostra cucina, cose semplici e squisite.
Pessoa si tirò su, si sistemò intorno al collo un tovagliolo immacolato che Bernardo Soares gli porse a alzò i coperchi di metallo che ricoprivano i piatti.
Qui c'è un caldo verde, disse Bernardo Soares, la sua minestra preferita, sono certo che le piacerà, e qui c'è della trippa alla maniera di Oporto, gliel'ho portata perché una volta le è stata servita fredda, come un amore freddo, e lei lo ha scritto in una sua poesia, ma volevo che l'assaggiasse calda, guardi, è ancora fumante, è appena uscita dal fuoco.
Pessoa sorrise. Ho una crisi epatica, disse, e forse la trippa non è il piatto che fa per me, però per cortesia ne assaggerò un pochino, mi ricordo ancora quando me la servirono fredda, ma sa, caro Soares, in quel momento non ero io, al mio posto c'era Alvaro de Campos.
Pessoa finì di bere la sua minestra e assaggiò un callo di trippa. È squisita, disse, ma le prego, signor Soares, la mangi lei, sono certo che oggi non ha pranzato.
Effettivamente non ho pranzato, rispose Bernardo Soares, non mi potevo permettere il lusso di pagare due pasti,, ho pagato solo il suo, ragion per cui mangio volentieri.
Bernardo Soares mise il vassoio davanti a sé e mangiò con gusto la trippa. Questo mi fa venire nostalgia delle nostre serate in cui cenavamo insieme al ristorante «Pessoa», disse, sono certo che lei scelse quel ristorante perché aveva il suo nome, in realtà è un ristorante abbastanza modesto, dove le persone come lei non andrebbero mai.»
Posso entrare, signor Pessoa?, chiese una voce.
Pessoa disse avanti e entrò un uomo. Reggeva un vassoio fra le mani, si soffermò sulla porta, ma Pessoa, senza gli occhiali e nella penombra della camera, non lo riconobbe.
Lei chi è?, domandò Pessoa.
Sono il suo amico Bernardo Soares, rispose l'uomo, ho saputo che era in ospedale e mi sono permesso di venirle a fare una visita.
Bernardo Soares si avvicinò al letto e posò il vassoio sul comodino. Le ho portato la cena, disse, l'ho presa nella trattoria dove ci incontravamo sempre, ho pensato che forse aveva voglia di fare una cena come ai bei tempi, mi sono permesso di scegliere io il menù.
In realtà non ho molta fame, rispose Pessoa, ma per farle piacere mangerò qualcosa, che cosa mi ha portato?
Si tiri su e le metterò il vassoio davanti, rispose Bernardo Soares, sono cibi tradizionali della nostra cucina, cose semplici e squisite.
Pessoa si tirò su, si sistemò intorno al collo un tovagliolo immacolato che Bernardo Soares gli porse a alzò i coperchi di metallo che ricoprivano i piatti.
Qui c'è un caldo verde, disse Bernardo Soares, la sua minestra preferita, sono certo che le piacerà, e qui c'è della trippa alla maniera di Oporto, gliel'ho portata perché una volta le è stata servita fredda, come un amore freddo, e lei lo ha scritto in una sua poesia, ma volevo che l'assaggiasse calda, guardi, è ancora fumante, è appena uscita dal fuoco.
Pessoa sorrise. Ho una crisi epatica, disse, e forse la trippa non è il piatto che fa per me, però per cortesia ne assaggerò un pochino, mi ricordo ancora quando me la servirono fredda, ma sa, caro Soares, in quel momento non ero io, al mio posto c'era Alvaro de Campos.
Pessoa finì di bere la sua minestra e assaggiò un callo di trippa. È squisita, disse, ma le prego, signor Soares, la mangi lei, sono certo che oggi non ha pranzato.
Effettivamente non ho pranzato, rispose Bernardo Soares, non mi potevo permettere il lusso di pagare due pasti,, ho pagato solo il suo, ragion per cui mangio volentieri.
Bernardo Soares mise il vassoio davanti a sé e mangiò con gusto la trippa. Questo mi fa venire nostalgia delle nostre serate in cui cenavamo insieme al ristorante «Pessoa», disse, sono certo che lei scelse quel ristorante perché aveva il suo nome, in realtà è un ristorante abbastanza modesto, dove le persone come lei non andrebbero mai.»
Antonio Tabucchi, Gli Ultimi ter giorni di Fernando Pessoa
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