Acerca de mim

A minha foto
Oeiras, Portugal
Aluno e Professor. Sempre aluno.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sou de um tempo em que no Liceu se estudava Português sem que fosse estritamente necessário ler as obras literárias contidas no programa da disciplina. O importante, nessa altura, era conhecer a história literária e, nesse sentido, mais importante do que ler Os Maias, Amor de Perdição, ou outra qualquer obra, convinha ler a História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes. Era mais importante conhecer a evolução da literatura do que os textos em si mesmos. No limite, um aluno podia concluir com uma boa classificação o Ensino Secundário, sem conhecer sequer as obras que enfeitavam o programa da disciplina de Português. Eu conhecera as obras do Programa com antecedência, porque gostava de ler. Mas propositadamente, entretido numa provocação adolescente, dei-me ao trabalho de não as ler naqueles anos, substituindo-as por um programa pessoal que incluía obras dos mesmos e de outros autores. Nessa altura constatei que, de facto, podemos não ler uma obra para dela falarmos, do mesmo modo que posso falar da dor de cabeça da minha vizinha do lado, por exemplo. Acontece que procedia desse modo sabendo da desonestidade intelectual em que incorria e levei-a até às últimas consequências, rejeitando mesmo ler aquelas obras no ano em que eram estudadas. Nesse ano eu não “aprendi” Eça de Queirós, nem Camilo Castelo-Branco, nem os outros autores, mas aprendi uma coisa muito mais importante para mim: quando falamos de alguma coisa, se queremos ser honestos, temos de a compreender nos seus cantinhos mais escondidos. Podemos ter menos para dizer, podemos ter menos margem para “delirar”, mas sabemos que, quando falamos de um livro é mesmo desse livro que estamos a falar e dos seus aspectos particulares. Aprendi a observar e a ser capaz de entender que, para falar de coisas genéricas, não poderei deixar de conhecer os seus elementos particulares, sob pena de nunca criar para mim um entendimento acerca da coisa observada, do livro, e não chegar a participar na sua discussão.

1 comentário:

Olga Moreira disse...

Só por isso,já foi bom não ter lido as obras indicadas...