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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ver

«E ver é ter a sensação dum objecto, pois, entre ele e a nossa sensibilidade, estabeleceu-se um determinado parentesco. O vibrar dos nossos nervos corresponde à causa que os põe em vibração. O peso de uma pedra e o nosso esforço para a mover fundem-se, por assim dizer, num só fenómeno. Se a sensação luminosa é a própria luz, a imagem de uam rosa que se nos pinta, na memória, é como se fosse ela mesma, desabrochada, na haste, à luz do sol. E se, porventura, dofre qualquer mudança, é para, mostrando-nos a rosa que é, nos mostrar ainda a Flor, a Deusa escondida neste nome: Primavera. E entre a imagem da rosa e a sua ideia, há intimidade que existe entre a rosa carnal e o seu retrato na memória. A ideia duma cousa é uma espécie de fotografia da mesma, desmaterializada ou reduzida à sua última abstracção. Pensar é ver em abstracto; mas esta visão nunca se liberta duma certa substância plástica. No conceito de grandeza, por exemplo, avulta o Himalaia; no de pequenez, gravita um átomo de pó; e no de distância brilham as últimas estrelas.»

Teixeira de Pascoaes, Santo Agostinho

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