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Aluno e Professor. Sempre aluno.

domingo, 30 de setembro de 2012

Luca Carboni - LIVE (All Music Bi Live, 18 dicembre 2006, 01) - La Mia Città

O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros

O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros.
As tardes vão-se repetindo no terraço, onde as palavras
são pequenos lugares de memória. Estou divorciada dos
outros pelo tempo destas entrelinhas - longe de casa,
tenho sonhos que não conto a ninguém, viro devagar

a primeira página: em fevereiro, eles ainda faziam amor
à sexta-feira. De manhã, ela torrava pão e espremia
laranjas numa cozinha fria. Havia mais toalhas para lavar
ao domingo, cabelos curtos colados teimosamente ao espelho.
Às vezes, chovia e ambos liam o jornal, dentro do carro,
antes de se despedirem. Às vezes, repartiam sofregamente
a infância, postais antigos, o silêncio - nada

aconteceu entretanto. Regresso, pois, à primeira linha,
à verdade que remexe entre as minhas mãos. Talvez os olhos
estivessem apenas desatentos sobre o livro; talvez as histórias
se repitam mesmo, como as tardes passadas no terraço, longe
de casa. Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém.

Maria do Rosário Pedreira, A Casa e o cheiro dos livros 

The xx - Angels

Les Monuments

«Les monuments, la mer, la face humaine, dans leur plénitude, natifs, conservant une vertu autrement attrayante que ne les voilera une description, évocation dites, allusion je sais, suggestion: cette terminologie quelque peu de hasard atteste la tendance, une très décisive, peut-être, qu'ait subie l'art littéraire, elle le borne et l'exempte. Son sortilège, à lui, si ce n'est libérer, hors d'une poignée de poussière ou réalité sans l'enclore, au livre, même comme text, la dispersion volatile soit l'esprit, qui n'a que faire de rien outre la musicalité de tout.»

Stéphane Mallarmé, Crise de vers

sábado, 29 de setembro de 2012

Tori Amos — Winter (Live At Montreux 1992)

Démocratie

«Le drapeau va au paysage immonde, et notre patois étouffe le tambour.
«Aux centres nous alimenterons la plus cynique prostitution. Nous massacrerons les révoltes logiques.
«Aux pays poivrés et détrempés! - au service des plus monstrueuses exploitations industrielles ou militaires.
«Au revoir ici, n'importe où. Conscrits du bon vouloir, nous aurons la philosophie féroce; ignorants pour la science, roués pour le confort; la crevaison pour le monde qui va. C'est la vraie marche. En avant, route!»

Jean-Arthur Rimbaud, Illuminations

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

The Doors Break on Through Live at "Toronto Rock&Roll Revival" (Varsity Stadium) 1969

Beladona

Talvez só eu a veja como a flor
da volúpia e do prazer
capaz de anular de um só instante
o ressentimento dos tímidos e a
inexperiência dos muito novos.
Não sei se é assim a beladona,
na revelação da rosa e do branco
quando em setembro ergue da terra
baixa o calor doce da sua haste.
No fim do verão surge a beladona,
conquistador de um tempo de mar
vagas de um sentimento sem fim e
a frágil cor obedece a um impulso
estranho e viril.
Quem diria a beladona carregada
de um tempo ferido por um per-
verso e brusco desejo?
Acaricia junto ao seio a paciente
tépida noite do outono e o caule
abre o juvenil rosa desarmado
do verão, mas não esquecido
do branco polén, o seu veneno.

João Miguel Fernandes Jorge, Terra Nostra

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Everything but the Girl - Night and Day

As Coisas que se Afirmam de Deus não Diferem Realmente

«Por conseguinte, importa que consideres que todas as coisas que se afirmam de Deus não podem, devido à suprema simplicidade de Deus, diferir realmente, ainda que, por razões diferentes, atribuamos a Deus nomes sempre diferentes. Deus, porém, na medida em que é a razão absoluta de todas as razões formáveis, complica em si as razões de tudo. Por isso, ainda que atribuamos a Deus vista, ouvido, gosto, odor, tacto, sentido, razão, intelecto e outras coisas semelhantes segundo razões sempre diferentes, próprias do significado de cada um destes vocábulos, todavia nele o acto de ver não é diferente do acto de ouvir, de gostar de cheirar, de tocar, de sentir e de compreender. E assim se diz que toda a teologia tem uma natureza circular, dado que um dos atributos se afirma de outro. E o ter de Deus é o seu ser; o seu mover-se é o seu estar; o correr, o descansar; e o mesmo [se diga] dos restantes atributos. Assim, ainda que nós lhe atribuamos por uma razão o mover-se e por outra o estar, todavia, porque ele é a razão absoluta na qual toda a alteridade é unidade e toda a diversidade identidade, então, a diversidade das razões, segundo o que nós concebemos como diversidade, e que não é a própria identidade, não pode existir em Deus.»

Nicolau de Cusa, A Visão de Deus

domingo, 2 de setembro de 2012

Eugen Jochum/Bruckner Symphony No. 7 1st mov't 1/2

There was a Boy

There was a Boy; ye knew him well, ye cliffs
And islands of Winander! - many a time,
At evening, when the earliest stars began
To move along the edges of the hills,
Rising or setting, would he stand alone,
Beneath the trees, or by the glimmering lake;
And there, with fingers interwoven, both hands
Pressed closely palm to palm ando to his mouth
Uplifted, he, as through an instrument,
Blew mimic hootings to the silent owls,
That they might answer him. - And they would shout
Across the watery vale, and shout again,
Responsive to his call, - with quivering peals,
And long halloos, and screams, and echoes loud
Redoubled and redoubled; concourse wild
Of jocund din! And, when there came a pause
Of silence such as baffled his best skill:
Then, sometimes, in that silence, while he hung
Listening, a gentle shock of mild surprise
Has carried far into his heart the voice
Of mountain-torrents; or the visible scene
Would enter unawares into his mind
With all its solemn imagery, its rocks,
Its woods, and that uncertain heaven received
Into the bosom of the steady lake.
   This boy was taken from hia mates, and died
In childhood, ere he was full twelve years old.
Pre - eminent in beauty is the vale
Where he was born and bred: the churchyard hangs
Upon a slope above the village-school;
And, through that church-yard when my way has led
On summer-evenings, I believe, that there
A long half-hour together I have stood
Mute - looking at the grave in which he lies!

William Wordsworth (1799)