Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Anche in una società più decente di questa, mi sa che mi troverò a mio agio e d'accordo sempre con una minoranza. (Nanni Moreti)
Acerca de mim
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Primeiro Andamento da Saga
Onde uma profecia de arminho
desabou da estrela polar
empinou-se o cavalo de vinho
do hiperbóreo rei Harald
Apostou o rei com o mar
qual deles teria mais furor
e porque tinha um barrete
de pele da ursa maior
ganhou o rei que na alta crista
de uma onda fundou um país de tule
e num vasto sorriso marinho
mostrou um dente triunfal azul
Apostou o rei com o sol qual deles
era um disco mais luminoso
perdeu o rei e para uma noite eterna
o rebocou um animal fabuloso
Sem leme voga louca a lenda
e um fantasma ma serve de ponto
para que uma amarra de versos a prenda
Andersen não contou este conto
desabou da estrela polar
empinou-se o cavalo de vinho
do hiperbóreo rei Harald
Apostou o rei com o mar
qual deles teria mais furor
e porque tinha um barrete
de pele da ursa maior
ganhou o rei que na alta crista
de uma onda fundou um país de tule
e num vasto sorriso marinho
mostrou um dente triunfal azul
Apostou o rei com o sol qual deles
era um disco mais luminoso
perdeu o rei e para uma noite eterna
o rebocou um animal fabuloso
Sem leme voga louca a lenda
e um fantasma ma serve de ponto
para que uma amarra de versos a prenda
Andersen não contou este conto
Natália Correia, O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro
sexta-feira, 22 de junho de 2012
Anjos
«Quando os anjos são gente são crianças.
Crianças pequeninas que não crescem
Porque, como aqui são
Visitas, só, das nossas esperanças,
Sorriem para o nosso coração
Só um ano ou dois; depois desaparecem.»
Crianças pequeninas que não crescem
Porque, como aqui são
Visitas, só, das nossas esperanças,
Sorriem para o nosso coração
Só um ano ou dois; depois desaparecem.»
Fernando Pessoa
sábado, 16 de junho de 2012
Consciência
«O homem só pela inconsciência e pela ignorância pode ser feliz. O tipo da felicidade é a criança. Uma criança só não é feliz quando é doente; e a essa doença anda ligada uma anormal consciência de si.
O homem principia por não ter consciência da sua pequenez perante o espaço, nem de nunca nitidamente compreender a sua insignificância perante o tempo.
A nossa força é a inconsciência da nossa fraqueza. A nossa valentia é a inconsciência do perigo. A nossa coragem ante a morte é a inconsciência do que de mistério e horror a morte representa.
O que é que nos pode dar prazer ou grandeza? Alguma coisa do sentir? Nenhuma; porque []
O saber? A única felicidade do saber é o ignorar, é a inconsciência do quanto se não sabe, nem nunca se saberá. O nosso prazer na acção vem apenas de não medirmos quão limitado e inútil todo o acto humano radicalmente é.
Somos animais essencialmente lógicos, na superfície da nossa consciência de nós mesmos. Mas a lógica é a grande suicida; todo o argumento, bem prolongado e encaminhado, morre, e mata a lógica em si, como os crentes dizem que quem quer crucificar Cristo em sua alma pode ser pecador. Bem [] todo o sistema metafísico leva ao cepticismo, mas a razão é incompetente para se provar incompetente, por isso necessita de provar a sua competência. O círculo vicioso é a única realidade lógica. O sofisma mesmo é que é real; a certeza é que não existe.
Se nos entregamos ao sentimento, a nossa natureza de lógicos pede-nos que nos expliquemos porquê: Se a um sentimento considerado geral e universal, a lógica da metafísica pede contas com razão; se a um sentimento individual, a lógica pergunta porque há-de o individual ser escolhido. E, persistindo, pergunta se o individual, sendo [] por individual, não será um erro, visto toda a individualidade ser realmente conjunta, mesmo psiquicamente.»
O homem principia por não ter consciência da sua pequenez perante o espaço, nem de nunca nitidamente compreender a sua insignificância perante o tempo.
A nossa força é a inconsciência da nossa fraqueza. A nossa valentia é a inconsciência do perigo. A nossa coragem ante a morte é a inconsciência do que de mistério e horror a morte representa.
O que é que nos pode dar prazer ou grandeza? Alguma coisa do sentir? Nenhuma; porque []
O saber? A única felicidade do saber é o ignorar, é a inconsciência do quanto se não sabe, nem nunca se saberá. O nosso prazer na acção vem apenas de não medirmos quão limitado e inútil todo o acto humano radicalmente é.
Somos animais essencialmente lógicos, na superfície da nossa consciência de nós mesmos. Mas a lógica é a grande suicida; todo o argumento, bem prolongado e encaminhado, morre, e mata a lógica em si, como os crentes dizem que quem quer crucificar Cristo em sua alma pode ser pecador. Bem [] todo o sistema metafísico leva ao cepticismo, mas a razão é incompetente para se provar incompetente, por isso necessita de provar a sua competência. O círculo vicioso é a única realidade lógica. O sofisma mesmo é que é real; a certeza é que não existe.
Se nos entregamos ao sentimento, a nossa natureza de lógicos pede-nos que nos expliquemos porquê: Se a um sentimento considerado geral e universal, a lógica da metafísica pede contas com razão; se a um sentimento individual, a lógica pergunta porque há-de o individual ser escolhido. E, persistindo, pergunta se o individual, sendo [] por individual, não será um erro, visto toda a individualidade ser realmente conjunta, mesmo psiquicamente.»
Fernando Pessoa, «O Eremita da Serra Negra»
terça-feira, 12 de junho de 2012
Civiltà antica
Certo il giorno non trema, a guardarlo. E le case
sono ferme, piantate ai selciati. Il martello
di quell'uomo seduto scalpiccia su un ciottolo
dentro il molle terriccio. Il ragazzo che scappa
al mattino, non sa che quell'uomo lavora,
e si ferma a guardarlo. Nessuno lavora per strada.
L'uomo siede nell'ombra, che cade dall'alto
di una casa, più fresca che un'ombra di nube,
e non guarda ma tocca i suoi ciottoli assorto.
Il rumore dei ciottoli echeggia lontano
sul selciato velato dal sole. Ragazzi
non ce n'è per le strade. Il ragazzo è ben solo
e s'accorge che tutti sono uomini o donne
che non vedono quel che lui vede e trascorrono svelti.
Ma quell'uomo lavora. Il ragazzo lo guarda,
esitando al pensiero che un uomo lavori
sulla strada, seduto come fanno i pezzenti.
E anche gli altri che passano, paiono assorti
e finire qualcosa e nessuno si guarda
alle spalle o dinanzi, lungo tutta la strada.
Se la strada è di tutti, bisogna goderla
senza fare nient'altro, guardandosi intorno,
ora all'ombra ora al sole, nel fresco leggero.
Ogni via si spalanca che pare una porta,
ma nessuno l'infila. Quell'uomo seduto
non s'accorge nemmeno, come fosse un pezzente,
della gente che viene e che va, nel mattino.
sono ferme, piantate ai selciati. Il martello
di quell'uomo seduto scalpiccia su un ciottolo
dentro il molle terriccio. Il ragazzo che scappa
al mattino, non sa che quell'uomo lavora,
e si ferma a guardarlo. Nessuno lavora per strada.
L'uomo siede nell'ombra, che cade dall'alto
di una casa, più fresca che un'ombra di nube,
e non guarda ma tocca i suoi ciottoli assorto.
Il rumore dei ciottoli echeggia lontano
sul selciato velato dal sole. Ragazzi
non ce n'è per le strade. Il ragazzo è ben solo
e s'accorge che tutti sono uomini o donne
che non vedono quel che lui vede e trascorrono svelti.
Ma quell'uomo lavora. Il ragazzo lo guarda,
esitando al pensiero che un uomo lavori
sulla strada, seduto come fanno i pezzenti.
E anche gli altri che passano, paiono assorti
e finire qualcosa e nessuno si guarda
alle spalle o dinanzi, lungo tutta la strada.
Se la strada è di tutti, bisogna goderla
senza fare nient'altro, guardandosi intorno,
ora all'ombra ora al sole, nel fresco leggero.
Ogni via si spalanca che pare una porta,
ma nessuno l'infila. Quell'uomo seduto
non s'accorge nemmeno, come fosse un pezzente,
della gente che viene e che va, nel mattino.
Cesare Pavese, Lavorare stanca
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Carvalho
«Conhece agora a sabedoria de Édipo: - Se alguém extirpar com um machado afiado um carvalho, desfigurar-lhe-á o aspecto admirável, mas este ainda que tenha perdido a capacidade de frutificar, deporá testemunho em sua defesa, caso acabe por dar fogo no Inverno, ou permaneça apoiado às colunas direitas de uma casa senhorial. Suportará um sofrimento atroz nos muros de uma cidade estrangeira, depois de ter deixado deserta a sua própria terra.»
Píndaro, Odes Píticas
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Ajudantes
«Talvez porque a criança é um ser incompleto, a literatura para a infância está cheia de ajudantes, seres paralelos e aproximativos, demasiado pequenos ou demasiado grandes, gnomos, larvas, gigantes bons, génios e fadazinhas caprichosas, grilos e pirilampos falantes, burrinhos caga-dinheiro e outras criaturinhas encantadas que, no momento do perigo, surgem miraculosamente para salvar do impasse a princezinha boa ou os jovens destemidos. São os personagens que o narrador esquece no fim da história, quando os protagonistas vivem felizes e contentes até ao fim dos seus dias; mas destes, desta "gentinha" inclassificável, a quem, no fundo, tudo devem, não se sabe mais nada. Contudo tentem perguntar a Próspero, quando este se despe de todas as magias e regressa ao seu ducado, para junto dos outros humanos, que coisa é a vida sem Ariel.»
Giorgio Agamben, Profanações
sexta-feira, 1 de junho de 2012
Poema
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo me transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo me transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Mário Cesariny de Vasconcelos
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