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segunda-feira, 19 de junho de 2023

Silêncio

 Quando cresci, cresci na rua, ao ar livre, sempre disponível para o destino escolhido pelo vento que me guiava. Cresci livre. Havia na luminosidade de um horizonte a descobrir o encantamento da luz do sol reflectida nas águas da minha praia, do mar que, agora adulto, revejo com renovada impressão de novidade. De uma novidade nascida do facto de nada se repetir no fluxo interminável das ondas. Cresci num tempo em que era possível a espera. O tempo era uma instância controlável de acordo com a nossa dimensão imediata. Ou parecia ser. Tudo estava à distância e a tudo era possível chegar um dia, ao longo da incomensurabilidade da vida que tinha pela frente. 

A vida decorria de acordo com uma mediação temporal que lhe dava o equilíbrio que, em muitos momentos parecia faltar. Havia um tempo para inspirar e um tempo para expirar, um tempo para semear e um tempo para colher. Assim sucedendo, desde cedo compreendi que o tempo é o melhor conselheiro que de nada nos serve esbracejar quando não vemos os nossos desejos satisfeitos. Do mesmo modo, fui constatando que, nos momentos em que não encontramos respostas justas aos problemas que se nos deparam, ou quando ainda não tivemos a disponibilidade para pensar, o melhor é escolher a via do silêncio. Esse silêncio momentâneo, que nos permite a distância, através da qual seremos capazes de aspirar a um entendimento razoável dos acontecimentos.
Nem sempre acontece assim: sermos capazes de alcançar uma compreensão das coisas que nos acontecem. No entanto, melhor do que corrermos o risco de nos deixarmos enredar nas teias do ridículo, é o silêncio, por meio do qual ao menos poderemos aspirar a uma espécie particular de moderação.

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