A democracia deixou de existir. De tal modo se vulgarizou a ideia igualitária, de acordo com a qual todos são iguais e todos sabem tudo, que agora se generalizou uma outra ideia, a de que qualquer pessoa pode emitir uma opinião sobre tudo, mesmo com um elevado grau de certeza. Até porque o eleitor deixou de ser um cidadão, mas sobretudo um consumidor. Nomeadamente eleitoral. O voto passou a ter um preço.
Uma coisa são os direitos consagrados por lei, os direitos constitucionais, por exemplo, outra coisa, bem diferente, é pensar-se que se pode dizer tudo o que apetece, com toda a certeza do mundo e do modo mais assertivo possível.
A este propósito apetece convocar a ideia de morte e a simbologia particular do Panteão Nacional. Nos últimos tempos a última morada dos homens e das mulheres ilustres do meu país estava consagrada apenas aos poucos que, de facto, se tinham entregado a uma missão superior ao serviço dos outros, nos domínios cultural e político. Com a entrada de um jogador de futebol nesse panteão, tudo se altera.
Com efeito, de um momento para o outro, e apenas movidos por um interesse imediato e eleitoralista, todos os partidos representados na Assembleia da República decidiram que o Panteão Nacional se deveria democratizar. Eu direi, vulgarizar.
Noutros países existem lugares específicos onde se imortalizam aqueles a quem o povo dedica afeição, mesmo depois de falecidos. Em Portugal isso não chega.
De certo modo, ao ver entrar algumas figuras públicas no Panteão Nacional, o povo sente que também ele ali está representado, e sente-se aconchegado...
O problema diz respeito aos patamares de exigência que colocamos em nós próprios e, por conseguinte, na vida e no mundo que nos rodeia.
O patamar de exigência português é muito raso.
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