em silencioso teu entendimento inclinados.
Assim andam jovens poetas ao entardecer
nas áleas dos jardins mais afastados.
Assim ficam os camponeses à volta do corpo em prece
quando na morte uma criança se perdeu,
e é ainda a mesma realidade que acontece:
algo desmedido sucedeu.
Quem de ti pela primeira vez se apercebe
pelo vizinho e pela hora é incomodado,
anda sobre o teu rasto inclinado
e como carregado dos anos que recebe.
Só mais tarde se aproxima da natureza
e pelos ventos e as distâncias é tocado
ouve-te, sussurrado pelo campo com beleza,
vê-te, pelas estradas cantado,
e não mais te pode esquecer,
e tudo é apenas o teu manto a se estender.
Para ele és novo e próximo e bom rapaz
e como uma viagem maravilhoso,
que ele em silenciosos barcos ditoso
num grande rio faz.
O país é amplo, envolto em ventos, aplanado,
a grandes céus abandonado
e a antigas florestas submetido.
As pequenas aldeias que se vão aproximando,
de novo como repicar de sinos desaparecendo
e como um ontem e um hoje vivido
e como tudo o que fomos vendo.
Mas junto ao curso deste rio enorme
sempre cidades es estão a levantar
e vêm como em bater de asas conforme
à viagem festiva se juntar.
E por vezes o barco a sítios vem,
que solitariamente, sem aldeia nem cidade,
algo esperam junto às ondas, com serenidade,
aquele que pátria não tem...
Para esses aí pequenos carros há
(cada um com três cavalos à frente já),
que sem fôlego correm para o entardecer
num caminho que acabou por se perder.
Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas
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