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Aluno e Professor. Sempre aluno.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Destino

O homem caminha sem direcção. Há muito que se tinha perdido o homem que assim caminhava sem destino. Para trás ficara um vazio. Já deixara de se preocupar em preencher o vazio que o invadia. A sua busca de nada centrava-se apenas nos seus passos, que dava sem cautelas. Sempre se imaginara perdido, o homem que caminhava e apenas vislumbrava a distância dos seus próprios passos. Em tempos, ao chegar a casa, pensou em partir. No momento em que, pela primeira vez conjecturara a sua perda, o homem que caminhava sem destino, imaginara-se a percorrer um itinerário solitário. Imaginara densas florestas percorridas à chuva e ao sol, ao calor e ao frio, e pressentia a liberdade. Não aquela liberdade que a vida e o contacto com os outros lhe tinha sido sugerida, mas uma outra dimensão de si enquanto ser livre, capaz de escolher o lugar da sua sepultura. Na sua perspectiva deambulatória e vaga, o homem perdido conjecturava o seu próprio final e sabia que a liberdade só podia ser alcançada se fosse capaz de percorrer os seus mais íntimos e esconsos espaços interiores e que, de seguida, pudesse pensar na infinita solidão jubilatória do momento em que, por fim, se encontrasse em definitivo com a terra, e, finalmente, consigo próprio.

2 comentários:

Carlos Lopes disse...

A arte do reencontro connosco é muito complexa, por vezes...

Raimundo_Lulio disse...

Esse homem é um filósofo.