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Aluno e Professor. Sempre aluno.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

XXX

DE PROFUNDIS CLAMAVI 

J’implore ta pitié, Toi, l’unique que j’aime, 
Du fond du gouffre obscur où mon coeur est tombé. 
C’est un univers morne à l‘horizon plombé, 
Où nagent dans la nuit l’horreur et le blasphème; 

Un soleil sans chaleur plane au-dessus six mois, 
Et les six autres mois la nuit couvre la terre; 
C’est un pays plus nu que la terre polaire; 
- Ni bêtes, ni ruisseaux, ni verdure, ni bois! 

Or il n’est pas d’horreur au monde qui sorpasse 
La froide cruauté de ce soleil de glace 
Et cette immense nuit semblable au vieux Chaos; 

Je jalouse le sort des plus vils animaux 
Qui peuvent se plonger dans un sommeil stupide, 
Tant l’écheveau du temps lentement se dévide!

Charles Baudelaire

domingo, 13 de julho de 2025

Imaginação

«Quando, ao saborear a madalena, o narrador de Proust tem a visão de Combray, a imagem assim formada reverbera intensamente. Não é. afinal, a visão de Combray do passado real nem a visão de Combray do presente actual que se apresentam, mas uma transfiguração das duas, a imagem transformada da figura passada de Combray intensificada pela evocação. Proust escreve:

Quando nada subsiste de um passado antigo, após a morte dos seres, após a destruição das coisas, apenas o cheiro e o sabor, mais frágeis mas mais vivazes, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, permanecem ainda por muito tempo, como almas [...].

Que imagem é essa que parece viva e, de certo modo, eterna? É o fantasma de Combray: um ente animado, intenso, fulgurante, mas sem correspondente real. Todas as nossas recordações são como aquela que a madalena suscita, fantasmas imateriais mais ou menos intensivos, como se quisessem voltar à vida e nisso empregassem toda a sua energia. Toda a imagem é espectral. É da espectralidade da imagem que nasce a sua vocação interna para simular a percepção viva.»

José Gil, Morte e Democracia