"[...] no modo de vida das sociedades de bem-estar ocidentais, foram cuidadosamente restabelecidas ilhas de lentidão que - desde os monumentos que cultivam a memória até aos spas - tentam devolver um ritmo diferente ao «frenesi em suspensão» da modernidade tardia. Todavia, estes esforços continuam, em larga medida, a ser artificiais. Caminho algum nos conduz de regresso ao Paraíso, que - não obstante todas as promessas de salvação - jamais pôde ser obtido na Terra. E nem uma viagem em redor do mundo, que a Heinrich von Kleist se afigurava como um possível alívio dos constrangimentos do tempo, nos trouxe de volta às portas traseiras do céu. Ter-nos-á, porém, arrastado por vezes até alguma ilha que se aproxima razoavelmente da noção de felicidade terrena. A pausa mais misteriosa que realizamos nas nossas vidas é decerto o sono, em que todas as noites ensaiamos aquela espera da qual um dia já não acordaremos."
Andrea Kohler, O Tempo que passa, Um ensaio sobre a espera.