Não há montanhas se não há palavras.
Não foge a bala se não há um espaço.
Não sobe o céu se não houver distâncias.
Não cabe o túnel se nunca estão paredes.
Correrem dias todos nós sabemos
serem serenos de punhais no meio;
mas sem montanhas nunca pode haver
um certo dia, grande nos foi dado.
O que esperámos era a Morte Larga,
o que pedimos era só um Homem,
madeira e ferro que soubemos dar.
Tudo existiu para que ele o desse,
tudo existiu para que ele caia.
Não há montanhas se não há palavras.
Pedro Tamen, O Sangue, A Água e o Vinho, poema em três cânticos, 1958