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terça-feira, 14 de junho de 2011

Joni Mitchell

«Os poemas de Joni Mitchell são uma eterna variação sobre um tema eterno: a dualidade razão/coração, onde por vezes se tocam ou entrechocam, num confronto difícil. Onde a razão sobe, o coração, na sua queda, interfere, e vice-versa. Por um lado, fala a senhora que se julga numa obsessão de rigor ou na história insensata de se ilibar, ou condenar. Pelo outro, responde a mulher perdida nos confins da mais vulgar de todas as paixões, chamando-se a si mesma, recusando-se a tomar a consciência do que se passa. E o que se passa por ambas estas mulheres chamadas Joni Mitchell é invariavelmente o amor.
A guerra suada entre homem e mulher, as minúsculas batalhas onde lutam a estupidez, o egoísmo, a lonjura e o amor - e ninguém ganha ou perde onde todos estão resolvidos à vitória (ou à derrota) total. Quase todas as suas canções se debruçam, com laivos de minuciosa morbidez, sobre o desfecho do êxtase amoroso. O corpo caído é examinado com uma lupa que a raiva ou as lágrimas bafejam e enevoam, impedindo o claro olhar. Na poética de Joni Mitchell a saudade nunca é completa: a realidade desfeia e a imaginação deturpa tudo aquilo que o tempo não acaba por apagar. Assim, a canção é o intervalo entre as suas aventuras, aquilo que se faz nas fronteiras da desilusão ou até no limiar duma nova paixão. Entre vidas.»

Miguel Esteves Cardoso, Escrítica Pop

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