Uno nessuno centomilla
Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Anche in una società più decente di questa, mi sa che mi troverò a mio agio e d'accordo sempre con una minoranza. (Nanni Moreti)
Acerca de mim
quinta-feira, 21 de setembro de 2023
Porque
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
segunda-feira, 19 de junho de 2023
O Tempo é o melhor conselheiro
E quanto engano, artimanha e embuste não existem no reino do Belo! E por que razão? Porque o reino do Belo é, ao mesmo tempo, o reino do amor e do desejo, porque a carne e os sentidos se imiscuem e determinam a ideia de beleza.
(Thomas Mann, in «José e os seus irmãos, o jovem José»)
There was a boy
There was a boy; ye knew him well, ye cliffs
And islands of Winander! - many a time,
At evening, when the earliest stars began
To move along the edges of the hills,
Rising or setting, would he stand alone,
Beneath the trees, or by the glimmering lake,
And there, with fingers interwoven, both hands
Pressed closely palm to palm and to his mouth
Uplifted, he, as through an instrument,
Blew mimic hootings to the silent owls,
That they might answer him. - And they would shout
Across the watery vale, and shout again,
Responsive to his call, - with quivering peals,
And long halloos, and screams, and echoes loud
Redoubled and redoubled; concourse wild
Of jocund din! And, when there came a pause
Of silence such as baffled his best skill:
Then, sometimes, in that silence, while he hung
Listening, a gentle shock of mild surprise
Has carried farinto his heart the voice
Of mountain-torrents; or the visible scene
Would enter unawares into his mind
With all its solemn imagery, its rocks,
Its woods, and that uncertain heaven received
Into the bosom of the steady lake.
This boy was taken from his mates, and died
in chidhood, ere he was full twelve years old.
Pre-eminent in beauty is the vale
Where he was born and bred: the churchyard hangs
Upona slope above the village-school;
And, through that church-yard when my way has led
On summer-evenings, I believe, that there
A long half-hour together I have stood
Mute - looking at the grave in which he lies!
Crepúsculo
«A modernidade deve atribuir-se a quem rejeita a ideia de um esvaziamento total do futuro no passado e opta pela inesgotabilidade do futuro, ainda que essa escolha exclua a possibilidade de um Deus omnisciente, de um Deus que, «no final dos tempos», se inclina para trás, numa retrospetiva abrangente da criação.
O «mundo» - e que, durante muito tempo, «mundo» foi uma palavra injuriosa cristã sabia-o Nietzsche melhor do que ninguém - opunha-se ao convite a esvaziar o futuro no ser-passado total porque renegava a primazia ontológica do passado. Opunha-se porque, em luta consigo mesmo, graças a um esforço autodidata de coerência admirável, aprendeu a conceder ao tempo o que lhe era devido.»
Peter Sloterdijk, Depois de Deus
13
Como posso eu amar-te, se nem sei
como à porta te chamam os vizinhos,
nem visitei a rua onde nasceste,
nem a tua memória confessei.
Que vaga rima me permite agora
desenhar-te de rosto e corpo inteiro
se só na tua pele é verdadeiro
o lume que na língua se demora...
Não deixes que te enganem os recados
na infernal gazeta publicados
que te dão já por escultura minha;
nocturno frankenstein, em vão soprei
trompas de criação, e foste tu
quem me criou a mim quando quiseste.
If I DIDN'T HAVE YOUR LOVE
If the sun would lose its light
Silêncio
Quando cresci, cresci na rua, ao ar livre, sempre disponível para o destino escolhido pelo vento que me guiava. Cresci livre. Havia na luminosidade de um horizonte a descobrir o encantamento da luz do sol reflectida nas águas da minha praia, do mar que, agora adulto, revejo com renovada impressão de novidade. De uma novidade nascida do facto de nada se repetir no fluxo interminável das ondas. Cresci num tempo em que era possível a espera. O tempo era uma instância controlável de acordo com a nossa dimensão imediata. Ou parecia ser. Tudo estava à distância e a tudo era possível chegar um dia, ao longo da incomensurabilidade da vida que tinha pela frente.
Filosofia
«Se a filosofia é um esforço de conhecimento da vida, deverá corresponder aos seus desafios, deverá cuidar da vida, não a deixando correr perigos e, por conseguinte, vai à sua frente, iluminando os caminhos que consegue abrir, mantendo-a desperta para si própria. E, no entanto, a vida é sempre primeira e última, a vida adianta-se-nos sempre, na medida em que se surpreende nela um segredo por revelar, um enigma que desafia à decifração, e então ela pede que a sigamos e torna-se objecto de veneração. A paixão pelo obstáculo encontra assim o seu verdadeiro alimento.»
Maria Filomena Molder, Três Conferências, Primeira, Lança o teu pão sobre as águas (sobre Qohélet/ Ecclesiastes)
Tempo
«Para todas as coisas "há" um tempo;
terça-feira, 22 de março de 2022
terça-feira, 18 de janeiro de 2022
Espera
"[...] no modo de vida das sociedades de bem-estar ocidentais, foram cuidadosamente restabelecidas ilhas de lentidão que - desde os monumentos que cultivam a memória até aos spas - tentam devolver um ritmo diferente ao «frenesi em suspensão» da modernidade tardia. Todavia, estes esforços continuam, em larga medida, a ser artificiais. Caminho algum nos conduz de regresso ao Paraíso, que - não obstante todas as promessas de salvação - jamais pôde ser obtido na Terra. E nem uma viagem em redor do mundo, que a Heinrich von Kleist se afigurava como um possível alívio dos constrangimentos do tempo, nos trouxe de volta às portas traseiras do céu. Ter-nos-á, porém, arrastado por vezes até alguma ilha que se aproxima razoavelmente da noção de felicidade terrena. A pausa mais misteriosa que realizamos nas nossas vidas é decerto o sono, em que todas as noites ensaiamos aquela espera da qual um dia já não acordaremos."
Andrea Kohler, O Tempo que passa, Um ensaio sobre a espera.
sexta-feira, 3 de setembro de 2021
Remorso por qualquer morte
domingo, 15 de agosto de 2021
Paz
sexta-feira, 30 de julho de 2021
4
sábado, 26 de junho de 2021
Queda
domingo, 23 de maio de 2021
Aborrecimento
«Eu inventava para mim aventuras e fantasiava a minha vida para quê? Para ter uma vida. Tantas vezes me aconteceu, digamos, ofender-me - por nada, propositadamente; eu próprio sabia, entretanto, que estava a ofender-me por nada, fomentava a ofensa por dentro, mas levava a coisa a um ponto tal que, por fim, sentia-me de facto ofendido. Durante toda a minha vida me senti impelido a tramar estes truques, a ponto de, por fim, perder o domínio de mim. Aconteceu-me sentir vontade de me apaixonar à força, até por duas vezes. O que eu sofri, meus senhores, palavra de honra. No fundo da alma, eu não acreditava que sofria, agitava-se dentro de mim um sarcasmo, e mesmo assim sofria, ainda por cima a sério, e muito; tinha ciúmes, perdia as estribeiras... E tudo por causa do aborrecimento, meus senhores, do aborrecimento; a inércia oprimia-me. Porque o fruto directo, legítimo e espontâneo da consciência é a inércia, ou seja, o ficar-de-braços-cruzados. Já o mencionei atrás. Repito, repito e insisto: todas as pessoas e personalidades espontâneas são activas precisamente porque são lorpas e limitadas. Como se explica isto? É assim: como consequência de serem limitadas, tomam as causas superficiais e secundárias por causas primeiras, desta maneira se convencendo mais fácil e prontamente do que os outros que acharam um fundamento indefectível para as suas acções, e isso sossega-as; e é isso o mais importante: o sossego. Porque, para começar a agir, é necessário estar-se prévia e completamente em sossego e que não existam já dúvidas nenhumas.»
terça-feira, 18 de maio de 2021
Outra Anunciação
segunda-feira, 17 de maio de 2021
Literatura
«MJS
– Correndo o risco de achares que não tem sentido fazer esta pergunta
sacramental, pergunto: O que é para ti a literatura?
AF-
A pergunta «o que é…?» faz todo o sentido no campo da Física, por exemplo, onde
para perguntas como «o que é a densidade?», ou «o que é a massa?», há, presumo,
respostas exactas. Mas usar essa forma sintáctica da interrogação peremptória
para domínios como a literatura, é aplicar um critério a uma área de
problemática em que esse tipo de critério não é funcional. Neste sentido, essa
é uma pergunta que, em relação a este objecto particular – a literatura -, talvez
não faça sentido. Aquilo que se procurou durante muito tempo descrever como a
característica central do que é «o literário», e que portanto definiria a
literatura, nunca foi formulado de modo preciso. Houve tentativas brilhantes,
como a dos formalistas russos que caracterizavam esse princípio como o da
«literariedade». A literariedade, o característico do literário, poria em evidência
a ostensividade do enunciado, a natureza estranha daquele modo de dizer, em
detrimento do que está a ser dito. Isto não funciona, no entanto, porque na
vida real as pessoas utilizam este mesmo tipo de procedimento sem estarem a
fazer literatura. Para além disso, a literatura é um corpo muito instável. Hoje
poucos percebem que Pessoa, tal como Pascoaes, considerasse Guerra Junqueiro o
maior poeta do seu tempo. Entretanto, Junqueiro sofreu um eclipse quase total.
Esta questão invoca necessariamente um conhecido debate contemporâneo, o debate
sobre o chamado «cânone». O cânone é o conjunto daquelas obras que é objecto de
discurso e de referência obrigatórios, bem como de presença atenuada nos
programas escolares. Há uma série de teorias em relação a esta persistência dos
«clássicos». Teorias conspirativas pretendem que o cânone é uma construção
política, descrevendo esse elenco obrigatório de autores como motivado por
interesses particulares. As pessoas que falam com grande ferocidade teórica
contra a existência de um cânone, na prática não sugerem, todavia, alterações a
introduzir no elenco de nomes. Ou seja, com o lado esquerdo da boca denunciam a
sua existência, mas com o lado direito não nos dizem por que razão deverá
substituir-se, por exemplo, Eça de Queirós por Pinheiro Chagas ou Arnaldo Gama.
Em Portugal, há poucos candidatos recém-chegados ao cânone que o perturbem. Há
uma peculiaridade adicional: quem impugna teoricamente a existência do cânone,
persiste, no entanto, em falar dos autores canónicos. Mas decerto deverá
explicar o porquê dessa obstinação, sob pena de ser visto como conivente com os
interesses que denuncia, ou ter de explicar qual a natureza do valor que
reconhece nos autores de que persiste em falar. A discussão sobre a noção de
cânone foi importada dos Estados Unidos, país onde, de facto, alterações
parcelares do cânone se dão, e o debate sobre isso é virulento. Têm um
significado político, peculiar a uma democracia fortemente igualitária, e
traduzem recomposições demográficas. Um aumento significativo da população
hispânica, por exemplo, força o currículo a incorporar autores que digam alguma
coisa a esse segmento da população. O panteão está desenhado para acolher
mentores. É uma espécie de mesa do orçamento literário, que nenhum mandarinato
cultural controla, ou se arroga sequer a mera ideia de controlar.»
Entrevista de Maria João Seixas a António M. Feijó