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Oeiras, Portugal
Aluno e Professor. Sempre aluno.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Vozes

Vozes ideais e amadas
daqueles que morreram, e daqueles que são
para nós perdidos como os mortos.

Às vezes nos nossos sonhos falam;
às vezes no pensamento as ouve a mente.

E com o seu som por um momento regressam
sons da primeira poesia da nossa vida -
qual música,à noite,  longínqua, que se apaga.

Konstandinos Kavafis

sábado, 26 de janeiro de 2013

domingo, 20 de janeiro de 2013

Vida

«Mas a vida. A lenta derrocada dos grandes caules verdes de tal modo que a flor acaba por se virar, ao cair, inundando-nos com uma luz de púrpura e vermelho. Por que é que, bem vistas as coisas, não nascemos  ali em vez de aqui, desamparados, incapazes de ajustarmos como deve ser a luz do olhar, rastejando na erva entre as raízes, entre os calcanhares dos Gigantes? Porque dizer o que são as árvores, e o que são homens e o que são mulheres, ou sequer o que é haver coisas como árvores, homens e mulheres, não será algo que estejamos em condições  de fazer nos próximos cinquenta anos. Não há nada por vezes senão espaços de luz e de escuridão, intersectados por grandes hastes densas e talvez bastante mais acima manchas em forma de rosa - rosa-pálido ou azul-pálido - de cor indecisa, e tudo isso, à medida que o tempo passa, se vai tornando mais definido e se transforma - em não se pode saber o quê.»

Virginia Woolf, «A Marca na Parede» 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Luz Casal ► Piensa en mi

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Rimembranza

«Mentre il mondo del futuro è aperto all'immaginazione, e non ti appartiene più, il mondo del passato è quello in cui attraverso la rimembranza ti rifugi in te stesso, ritorni in te stesso, ricostruisci la tua identità, che si è venuta formando e rivelando nella ininterrotta serie dei tuoi atti di vita, concatenati gli uni con gli altri, ti giudichi, ti assolvi, ti condanni, puoi anche tentare, quando il corso della vita sta per essere consumato, di fare il bilancio finale. Bisogna affrettarsi. Il vecchio vive di ricordi e per i ricordi, ma la sua memoria si affievolisce di giorno in giorno. Il tempo della memoria procede all'inverso di quello reale: tanto più vivi i ricordi che affiorano nella reminiscenza quanto più lontani nel tempo gli eventi. Ma sai anche che ciò che è rimasto, o sei riuscito a scavare in quel pozzo senza fondo, non è cha un'infinitesima  parte della storia della tua vita. Non arrestarti. Non tralasciare di continuare a scavare. Ogni volto, ogni gesto, ogni parola,ogni più lontano canto, ritrovati, che sembravano perduti per sempre, ti aiutano a sopravvivere.»

Norbeto Bobbio, De Senectute e altri scritti autobiografici

sábado, 5 de janeiro de 2013

New Order - Regret (Official Video) High Quality

O Silva

Morreu o filho do barbeiro,
Uma criança de cinco anos.
Conheço o pai - há um ano inteiro
Que me barbeia e nos falamos.

Quando mo disse, o que em mim há
De coração sofreu assombro
E eu abracei-o, incerto já,
E ele chorou sobre o meu ombro.

Nunca acho uma atitude plana
Na vida estúpida e tranquila;
mas, meu Deus, sinto a dor humana!
Nunca me tires o senti-la!

Fernando Pessoa, Poemas de Fernando Pessoa (1934-1935) [edição de Luís Prista] 

New Order - Ceremony (Live At Finsbury Park 9th June 02)

Morte

«É provável que o pensamento filosófico tenha nascido como reflexão sobre o começo, sobre o arkhé - como nos ensinam os pré-socráticos -, mas essa reflexão foi certamente inspirada pela constatação de que as coisas, para além de um começo, também têm um fim. Por outro lado, o exemplo clássico do silogismo (logo, de um raciocínio incontestável) é: «Todos os homens são mortais, Sócrates é homem, logo Sócrates é mortal.» Que Sócrates também é mortal é o resultado de uma inferência, mas que todos os homens o sejam é uma premissa indiscutível. Muitas outras verdades indiscutíveis (que o Sol gira à volta da Terra, que há uma geração espontânea, que a pedra filosofal existe) foram revogadas pela dúvida ao longo da História - mas que todos os homens sejam mortais, não. No máximo, os crentes assumem que houve Um que ressuscitou: mas para poder ressuscitar teve de morrer.
É por isto que quem pratica a filosofia aceita a morte como o nosso horizonte normal, e não foi necessário esperar por Heidegger para que se afirmasse que quem pensa vive para a morte. Escrevi «quem pensa» referindo-me ao pensamento filosófico, porque conheço muitas pessoas, mesmo cultas, que quando alguém fala na morte (e nem sequer na deles) fazem logo gestos de esconjuro. O filósofo não, sabe que deve morrer e vive operosamente nesta espera. Quem acredita numa vida sobrenatural espera a morte com serenidade, mas espera-a igualmente com serenidade quem pensa (como Epicuro) que, quando o momento chega, não nos devemos preocupar, porque, nesse instante, já cá não estaremos.»

Umberto Eco, A Passo de Caranguejo, Guerra quentes e populismo mediático

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Lambchop - Nixon - The Old Gold Shoe

Natureza

«Quero dizer algumas palavras em nome da Natureza, da liberdade absoluta e do estado selvagem, por contraste com a liberdade e a cultura meramente civilizadas, com o intuito de ver no homem um habitante, uma parte ou uma parcela da Natureza, e não um mero membro da sociedade. Pretendo fazer declarações muito duras, senão mesmo categóricas, pois há já muitos paladinos da civilização: os padres, as congregações escolares e todos vós se encarregarão dessa tarefa.»

Henry David Thoreau, Caminhada

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Bitcrush - Prologue

Autobiografia

«Sim, uma autobiografia é irresistível. Aquele pobre, tolo e presumido secretário Pepys ganhou entrada, falando pelos cotovelos, no círculo dos Imortais; consciente de que na indiscrição está a parte de leão do valor, afadiga-se entre eles, perfeitamente à vontade, na sua «felpuda casaca violeta de botões dourados e renda em arco», que tanto gosta de nos descrever, enquanto se vai gabando, para seu e nosso infinito prazer, do saiote azul da Índia que comprou para a mulher, das «fressuras de um belo porco» e do «agradável fricassé francês de vitela» que adorava comer, dos seus jogos de bola e arco com Will Joyce, da sua «caça às mulheres», das suas declamações dominicais de Hamlet, de como tocava violeta nos dias de semana, e outras coisas triviais ou pecaminosas. Nem mesmo na vida real o egotismo deixa de ter atractivos. As pessoas que nos falam dos outros são normalmente desinteressantes. Quando nos falam de si mesmas são quase sempre interessantes, e, se fôssemos capazes de calá-las quando se tornam aborrecidas, com a mesma facilidade com que podemos fechar um livro de que nos cansámos, seriam absolutamente perfeitas.»

Oscar Wilde, Intenções, quatro ensaios sobre estética