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Oeiras, Portugal
Aluno e Professor. Sempre aluno.

domingo, 29 de abril de 2012

MINA "La voce de silenzio"

Arbítrio

«Atinge o género humano a perfeição quando desfruta duma grande liberdade. E é esta asserção evidente se se compreende o princípio da liberdade. Recorde-se, então, que o aspecto primacial da nossa liberdade é o livre arbítrio que tantos trazem na boca e tão poucos na inteligência. Dizem ser o livre arbítrio o juízo livre que mana da vontade. E dizem a verdade. Não abrangem, porém, o sentido das palavras que pronunciam. Assim repetem os nossos lógicos, durante todo o dia, sem as compreender, as proposições que aduzem para ilustração das regras. Por exemplo, esta proposição: a soma dos ângulos dum triângulo é igual a dois rectos.
Quanto a mim, penso que o juízo se situa entre a apreensão e o apetite: apreende-se, primeiro, o objecto; julgamo-lo, em seguida, bom ou mau; o julgador, por último, ou o persegue ou lhe foge. Se o juízo move assim de tão completa forma o apetite, e se, de modo nenhum, recebe deste o menor impulso, é que o juízo é livre; se, pelo contrário, o juízo é movido, seja como for, do apetite, não podemos considerá-lo livre: não age por si mesmo, é cativo de outrem. Eis porque os animais irracionais não podem ter um juízo livre; os seus juízos são sempre precedidos do apetite. E eis, outrossim, porque as substâncias intelectuais cujas vontades são imutáveis, e ainda as almas separadas, que dos bens desta vida se apartaram, não perdem a liberdade de arbítrio, fundada na imutabilidade da vontade. Longe de perdê-la, conservam-na em perfeitíssimo e poderosíssimo estado.»

Dante Alighieri, Monarquia 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Wagner: Rienzi - Ouvertüre - Knappertsbusch (1962)

Políticos

«De resto,que podia ele fazer neste país?... Quando voltara de França, ultimamente, pensara em entrar na diplomacia. Para isse sempre tivera blague: e agora que a mamã, coitada, lá estava no seu grande jazigo em Celorico, tinha a massa. Mas depois reflectira. Por fim, em que consistia a diplomacia portuguesa? Numa outra forma de ociosidade, passada no estrangeiro, com o sentimento constante da própria insignificância. Antes o Chiado!
E como Carlos lembrava a política, ocupação dos inúteis. Ega trovejou. A política! Isso tornara-se moralmente e fisicamente nojento, desde que o negócio atacara o constitucionalismo como uma filoxera! Os políticos hoje eram bonecos de engonços, que faziam gestos e tomavam atitudes porque dois ou três financeiros por trás lhes puxavam pelos cordéis... Ainda assim podiam ser bonecos bem recortados, bem envernizados. Mas qual! Aí é que estava o horror. Não tinham feitio, não tinham maneiras, não se lavavam, não limpavam as unhas... Coisa extraordinária, que em país algum sucedia, nem na Roménia, nem na Bulgária! Os três ou quatro salões que em Lisboa recebem todo o mundo, seja quem for, largamente, excluem a maioria dos políticos. E porquê? Porque as «senhoras têm nojo»!»

Eça de Queirós, Os Maias

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Chet Baker Quartet - Live in Norway 1979 (Part 2 of 3)

Caixão

«Talvez estejamos mortos e este cavalgar debaixo de chuva quase neve, na pálida noite, seja a eternidade e a sua pena. Em Goli Otok o gelo morde ainda mais, até o coração e a mente. Mas em Vorkuta, no gulag ártico, o inferno é ainda mais gelado - soube-o através de Julius, muitos anos depois. Julius Sattler, o Partido enviou-o para a União Soviética e ele acabou naquelas pinças ardentes de gelo - nem sequer ele soube alguma vez o porquê, que culpa o mandou para lá, encontrei-o muitos anos depois, foi um dos poucos que voltaram. Tornámo-nos especialistas em gelo; a História que vivemos é o zero absoluto, a morte da matéria. Também aí dentro, quero dizer, nesses ecrãs, deve fazer muito frio... Cyberia, Sibéria... Em Dachau, o doutor Rascher, SS Hauptsturmfuhrer, submerge os prisioneiros na água gélida, para ver se depois consegue reanimá-los, roçando-lhes o corpo inanimado contra o corpo nu de algumas deportadas, trazidas propositadamente para ali de Ravensbruck. O incêndio de Christiansborg...
Na velha casa, o pastor, um albino de olhos encovados, ofereceu-nos truta e leite.
«Sim, é o meu caixão» e indicava a urna num cantinho da igreja. «Há aqui tão pouca gente, que quando chegar a hora não se pode esperar que tratem de tudo, já fazem muito se o meterem aos ombros e o levarem para o cemitério. Aliás, quando eu pressentir que a minha hora está a chegar, vou estender-me lá dentro com a Bíblia na mão, como fez o Sera Asmundur Sveinsson, o meu antecessor, que agora jaz sob um rio de lava. Dois anos, senhor, as cinzas enegreciam quase todos os dias o céu; depois cataratas de lava, rios ardentes que escorriam do Hekla, o sol estava escuro como o sangue, aqueles pássaros pretos que existem apenas no Hekla caíam fulminados no ar ardente.»

Claudio Magris, Às Cegas

Hector Zazou Arthur Rimbaud Sahara blue Brussels

Liberdade

« (...) se pudéssemos perguntar a um Grego antigo o que o distinguia de um bárbaro, creio que ele não poria em primeiro lugar estas glórias do espírito helénico, apesar de estar plenamente consciente de que fazia a maior parte das coisas de uma maneira mais inteligente. (Demóstenes, por exemplo, ao censurar os seus concidadãos pela sua política de brandura para com Filipe da Macedónia, dizia: «Vocês parecem um bárbaro a tentar jogar o box. Atingi-o num lado, e as suas mãos acorrerão lá; atingi-o em qualquer outra parte, e as suas mãos lá estarão»). Nem tão-pouco pensaria em primeiro lugar nos templos, nas estátuas e nos dramas que nós tão justamente admiramos. Ele diria, e de facto disse-o »Os bárbaros são escravos; nós, Gregos, somos homens livres».
O que queria ele dizer com esta «liberdade» dos Helenos e «escravidão» dos não-helenos»? Devemos ter cuidado em não lhe dar um sentido estritamente político, embora o matiz político seja bastante importante. Politicamente significava, não necessariamente que o cidadão se governava a si próprio, - pois a maior parte das vezes assim não acontecia - mas sim que, qualquer que fosse o governo da cidade, respeitava os seus direitos. Os negócios de Estado eram do domínio público, não apenas da competência exclusiva de um déspota. As pessoas eram regidas pela Lei, uma lei conhecida, que respeitava a justiça. Uma vez que viviam numa verdadeira democracia, essas pessoas tomavam parte no governo do Estado, - a democracia, como os Gregos a entendiam, é uma forma de governo que o mundo actual não conhece nem pode conhecer. Mas se não viviam numa democracia, os Gregos eram, pelo menos, «membros», não súbditos, e os princípios da governação, toda a gente os conhecia. O governo arbitrário ofendia os Gregos até ao fundo da alma.»

H. D. F. Kitto, Os Gregos

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Ryszard Wagner - uwertura "Polonia" 1/2

(Má) Consciência

«Uma mentira recíproca que, contudo, é verdadeiramente digna da grande mentira que constitui a moderna noção de fama, como bem se compreende quando se observa que as paixões mais egoístas se cobrem hoje com esses sedutores disfarces fundamentais que são o «patriotismo», a «honra», o «respeito pela legalidade» e assim por diante.
Quais são então as razões que nos levam a achar necessário enganarmo-nos uns aos outros assim tão abertamente? É que esses conceitos, essas virtudes, subsistem na consciência das nossas classes dominantes. Mas, acrescente-se, na sua consciência. E não há dúvida de que só existirá uma arte verdadeira onde existir realmente verdade e nobreza de espírito. De há séculos a esta parte que os espíritos mais nobres, espíritos que Ésquilo e Sófocles teriam aceite jubilosamente por irmãos, vêm levantando a voz no meio do deserto. Ouvimo-los e o chamamento ainda ecoa nos nossos ouvidos. Mas esse eco deixámo-lo já extinguir-se nos nossos corações plenos de vaidosa vulgaridade. Podemos tremer perante a glória de tais homens, mas escarnecemos da sua arte, podemos conceder-lhes o título de artistas sublimes, mas liquidamos-lhes afinal as obras produzidas, porque aquilo que é grande, real e único numa obra de arte não está inteiramente na mão do artista e tem que ser também efectuado por nós. A tragédia de Ésquilo ou de Sófocles era obra de Atenas.»

Richard Wagner, A Arte e a Revolução

Hitchcock discusses North By Northwest

Disumanità

«Ogni insegnante do filosofia avrà qualche modo di raffigurare la nostra impossibilità ad accedere al regno delle cose-in-sé, per esempio con un cerchio o una linea tracciate rapidamente sulla lavagna, e al di fuori del quale o sotto la quale le nostre facoltà mentali e sensibili non possono penetrare. (Alcuni insegnanti tracceranno lo stesso semplice diagramma anno dopo anno per una vita, ogni volta piú o meno con lo stesso senso che il nostro destino umano vi sia inscritto o emblematizzato. Ritengo che alcuni di questi insegnanti siano su una buona strada, altri su una cattiva, a seconda delle loro capacità di tracciare diagrammi, cioè di allegorizzare). Ma se ora mi chiedo com in effetti raffiguro la barriera che mi preclude il regno dei fini, mi scopro a tracciare uno spazio vuoto.. Forse una buona immagine sarebbe uno schema del mio corpo, in quanto perimetro delle mie facoltà? O dovrei piuttosto cercare di immaginare la collezione di tutte le persone al di fuori di me, con cui io so che dovrei essere, ma non sono, in comunità? O l'assenza di una barriera rappresentabile è qui dovuta piuttosto al fatto che io attribuisco i limiti della comunità non a un insieme di circostanze (come, per esempio, la dimensione sensibile della natura umana) ma a una condizione della volontà, congiunta alla mia incapacità di raffigurare la volontà? Ma cosa in particolare della volontà? Se l'eventuale comunità dell'umanità non è soltanto qualcosa di vicino anoi di cui noi non siamo all'altezza, qualcosa che ci è precluso, allora la sua non-esistenza è dovuta al nostro volere contrario, alla presenza del male morale. Il che significa considerare il male morale come la volontà di esentarsi, di isolarsi, dalla comunità umana. È una scelta della disumanità, della mostruosità. Allora la nostra incapacità di rappresentarci come esclusi dal sociale, o come escludenti il sociale, il nostro tracciare qui uno spazio vuoto potrebbero esprimere un orrore di questa possibilità, insomma un orrore della privacy metafisica, come se la irrappresentabilità fosse una sorta di anonimato. (Questa scelta, questo rifiuto di applicare la legge morale a noi stessi, non deve, penso, essere interpretata come la disobbedienza con cui il Paradiso viene perduto. In quanto creature che hanno perso un legame immediato con il comando, noi siamo tutti disobbedienti; la nostra obbedienza è forzata, è imperativa, ce ne esenteremmo se potessimo. Quando Thoreau vuol esprimere questo concetto, dice che siamo duri d'orecchie. Raskolnikov non disobbedisce semplicemente alla legge in un dato caso, rifiutando di universalizzare la sua massima e di agire per la legge. Lo si può considerare uno che tenta di rifiutare la legge in quanto tale, di agire per l'immortalità, per diventare, diciamo, ingiudicabile. Egli purifica il nostro desiderio di disumanità. Mentre la nostra umana, impura disobbedienza quotidiana non crea l'inferno ma una terra indocile e popolosa).

Stanley Cavell, Alla Ricerca della Felicità

terça-feira, 17 de abril de 2012

Mahler - Symphony No.3 - I _ Abbado / Lucerne

Senhor e Senhora Palomar

«- Psiu! - faz o senhor Palomar, aparentemente para impedir que a sua mulher os assuste [os melros] falando em voz alta (recomendação inútil, porque os melros marido e mulher estão já habituados à presença dos senhores Palomar marido e mulher) mas na realidade para contestar a vantagem da mulher, demonstrando uma atenção pelos melros muito maior do que a dela.
Então a senhora Palomar diz: - Desde ontem que está novamente seca - referindo-se à terra do canteiro que está a regar, comunicação em si mesma supérflua, mas que é destinada a demonstrar, ao continuar a falar e a mudar de assunto, uma confiança com os melros muito maior e mais desenvolvida do que a do marido. O senhor Palomar, de qualquer modo, extrai desta troca de frases um quadro geral de tranquilidade, e fica grato à mulher por esse facto, porque se ela lhe confirma que de momento não existe nada de mais grave com que se preocupar, ele pode ficar absorvido no seu trabalho (ou pseudotrabalho, ou hipertrabalho). Deixa passar um minuto e tenta por sua vez enviar uma mensagem reconfortante, para informar a mulher de que o seu trabalho (ou infratrabalho ou ultratrabalho) prossegue como de costume; com este fim, imite uma série de sopros e resmungos: - ... correu mal... com tudo o que... do princípio... sim, com o caraças... - enunciações que no seu conjunto transmitem também a mensagem «estou muito ocupado», para o caso de a última observação da mulher conter também uma velada censura do tipo: «tu também poderias pensar em regar o jardim de vez em quando».
O pressuposto destas trocas verbais é a ideia de que um perfeito entendimento entre cônjuges permite compreender-se sem estar a especificar tudo tintim-por-tintim; mas este princípio é posto em prática por cada um deles de modos muito diferentes: a senhora Palomar exprime-se com frases inteiras, mas que são frequentemente alusivas ou sibilinas, destinadas a pôr à prova a rapidez das associações mentais do marido e a sintonia dos pensamentos dele com os dela (coisa que nem sempre funciona); o senhor Palomar, pelo contrário, deixa que das brumas do seu monólogo interior emerjam vagos sons articulados, esperando que deles possa resultar, se não a evidência de um sentido completo, pelo menos a penumbra de um estado de alma.
Pelo seu lado, a senhora Palomar recusa-se a receber estes resmungos, como uma conversa e para sublinhar a sua não participação diz em voz baixa: - Psiuuuu! Vais assustá-los... - devolvendo ao marido o silêncio que ele se tinha julgado no direito de lhe contrapor e reconfirmando a sua própria primazia em relação à atenção dos melros.»

Italo Calvino, Palomar

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ryuichi Sakamoto - Salvation (Live 2011)

Fenomenologia do Espírito

«A desigualdade que ocorre na consciência entre o eu e a substância, que é o seu objecto, é a sua diferença, o negativo em geral. Ele pode ser considerado como o defeito de ambos, mas é a sua alma ou aquilo que os move; é essa a razão por que alguns antigos conceberam o vazio como o motor, ao compreenderem o que move certamente como o negativo, mas ainda não este como o si mesmo. - Se este negativo aparece agora em primeiro lugar como a desigualdade do eu em relação ao objecto, ele é também a desigualdade da substância em relação a sim mesma. O que parece acontecer fora dela, ser uma actividade contra ela, é o seu próprio agir, e ela mostra a si ser essencialmente sujeito. Quando a substância mostrou isto completamente, o espírito tornou o seu ser-aí igual à sua essência; ele é para si objecto, tal como ele é, e o elemento abstracto da imediatez e da separação do saber e da verdade é ultrapassado. O ser é absolutamente mediado; ele é conteúdo substancial, que é do mesmo modo imediatamente propriedade do eu, tem o carácter do si mesmo, ou é conceito. Com isto se conclui a fenomenologia do espírito. O que o espírito nela prepara para si é o elemento do saber. Neste expandem-se agora os momentos do espírito na forma da simplicidade que sabe o seu objecto como si mesma. Eles já não se desmoronam na oposição do ser e do saber, mas permanecem na simplicidade do saber, são o verdadeiro na forma do verdadeiro, e a sua diversidade é só diversidade do conteúdo. O seu movimento, que neste elemento se organiza num todo, é a lógica ou filosofia especulativa.»

G. W. F. Hegel, Prefácios 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

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A F., Favorecendo com A Boca e Desprezando com Os Olhos

Quando o sol nasce e a sombra principia,
A doce abelha, a borboleta airosa
Procura luz ardente e fresca rosa,
Que faz a terra céu e a noite dia.

Mas quando à flor se entrega, à luz se fia,
Uma fica infeliz, outra ditosa,
Pois vive a abelha e morre a mariposa
Na favorável rosa e chama impia.

Fílis, abelha sou, sou borboleta,
Que com afecto igual, com igual sorte,
Busco em vós melhor luz, flor mais selecta.

Mas quando a flor é branda, a chama é forte,
Néctar acho na flor, na luz cometa;
A boca me dá vida, os olhos morte.

Jerónimo Baía

quinta-feira, 12 de abril de 2012

God Help The Girl - Act of the Apostle

Parole del politico

Si passava sul presto al mercato dei pesci
a lavarci lo sguardo: ce n'era d'argento,
di vermigli, di verdi, colore del mare.
Al confronto col mare tutto scaglie d'argento,
la vincevano i pesci. Si pensava al ritorno.

Belle fino le donne dall'anfora in capo,
ulivigna, foggiata sulla forma dei fianchi
mollemente: ciascuno pensava alle donne,
come parlano, ridono, camminano in strada.
Ridevamo, ciascuno. Pioveva sul mare.

Per le vigne nascoste negli anfratti di terra
l'acqua macera foglie e racimoli. Il cielo
si colora di nuvole scarse, arrossate
di piacere e di sole. Sulla terra sapori
e colori nel cielo. Nessuno con noi.

Si pensava al ritorno, come dopo una notte
tutta quanta di veglia, si pensa al mattino.
Si godeva il colore dei pesci e l'umore
delle frutta, vivaci nel tanfo del mare.
Ubriachi eravamo, nel ritorno imminente.

Cesare Pavese, Lavorare stanca

Stephane Grappelli in Tokyo , Autumn leaves

Morning at the window

They are rattling breakfast plates in basement kitchens,
And along the trampled edges of the street
I am aware of the damp souls of housemaids
Sprouting despondently at the area gates.

The brown waves of fog toss up to me
Twisted faces from the bottom of the street,
And tear from a passer-by with muddy skirts
An aimless smile that hovers in the air
And vanishes along the level of the roofs.

T. S. Eliot, Prufrock and other observations

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Miserere Mei Deus

The Dungeon

And this place our forefathers made for man!
This is the process of our love and wisdom,
To each poor brother who offends against us -
Most innocent, perhaps - and what if guilty?
Is this the only cure? Merciful God?
Each pore and natural outlet shrivell'd up
By ignorance and parching poverty,
His energies roll back upon his heart,
And stagnate and corrupt; till changed to poison,
They break out on him, like a loathsome plague-spot;
Them we call in our pamper'd mountebanks -
And this is their best cure! uncomforted
And friendless solitude, groaning and tears,
And savage faces, at the clanking hour,
Seen through the steams and vapour of his dungeon,
By the lamp's dismal twilight! So he lies
Circled with evil, till his very soul
Unmoulds its essence, hopelessly deformed
By sights of ever more deformity!

With other ministrations thou, O nature!
Healest thy wandering and distempered child:
Thou pourest on him thy soft influences,
Thy sunny hues, fair forms, and breathing sweets,
Thy melodies of woods, and winds, and waters,
Till he relent, and can no more endure
To be a jarring and a dissonant thing,
Amid this general dance and minstrelsy;
But, bursting into tears, wins back his way,
His angry spirit healed and harmonized
By the benignant touch of love and beauty.

William Wordsworth, Lyrical Ballads

terça-feira, 3 de abril de 2012

Suzanne Vega-Gypsy (Songwriter's Circle)

Souffrance

«Que du point de vue religieux il en soit ainsi pour la souffrance, je le sais parce que je suis à même de présenter deux témoins qui disent la même chose. Feuerbach, qui préconise le principe de la santé, dit que l'existence religieuse (plutôt l'existence cherétienne) est un histoire de souffrance constante, et il vous prie de ne considérer que la vie de Pascal, cela suffit. Pascal dit exactement la même chose: la souffrance est l'état naturel du chrétien (de même que la santé est celui de l'homme sensuel), et il fut un chrétien et parla d'après son expérience chrétienne.»

Soren Kierkegaard, Étapes sur le chemin de la vie

segunda-feira, 2 de abril de 2012

domingo, 1 de abril de 2012

Só esta liberdade nos concedem

Só esta liberdade nos concedem
Os deuses: submetermo-nos
Ao seu domínio por vontade nossa.
Mais vale assim fazermos
Porque só na ilusão da liberdade
A liberdade existe.

Nem outro jeito os deuses, sobre quem
O eterno fado pesa,
Usam para seu calmo e possuído
Convencimento antigo
De que é divina e livre a sua vida.

Nós, imitando os deuses,
Tão pouco livres como eles no Olimpo,
Como quem pela areia
Ergue castelos para encher os olhos,
Ergamos nossa vida
E os deuses saberão agradecer-nos
O sermos tão como eles.

Ricardo Reis

J.S. Bach - St. John Passion BWV 245 - Part 1/9

Il n'aurait fallu


Il n’aurait fallu
Qu’un moment de plus
Pour que la mort vienne
Mais une main nue
Alors est venue
Qui a pris la mienne

Qui donc a rendu
Leurs couleurs perdues
Aux jours aux semaines
Sa réalité
A l’immense été
Des choses humaines

Moi qui frémissais
Toujours je ne sais
De quele colère
Deux bras ont suffi
Pour faire à ma vie
Un grand collier d’air

Rien qu’un movement
Ce geste en dormant
Léger qui me frôle
Un soufflé posé
Moins Une rosée
Contre mon épaule

Un front qui s’appuie
A moi dans la nuit
Deux grands yeux ouverts
Et tout m’a semblé
Comme un champ de blé
Dans cet univers

Un tender jardin
Dans l’herbe où soudain
La verveine pousse
Et mon coeur défunt
Renaît au parfum
Qui fait l’ombre douce 

Louis Aragon, Le Roman inachevé